Vamos conversar sobre o turismo no Brasil?

Na Páscoa decidimos testar um trecho do nosso roteiro para a Estrada Real, e pudemos constatar algumas, digamos, 'falhas' no turismo no Brasil e eu gostaria de saber se foi apenas sensação minha, ou se você quando viaja passa pela mesma coisa.

Placa indicativa em plena rodovia coberto por areia de obra... Março/2016.

Vou tomar o exemplo da Estrada Real, pois está tudo tão recente ainda na memória que facilita bastante rs.

A Estrada Real é composta pelos caminhos que eram utilizados para escoar o ouro e as pedras preciosas de Minas Gerais para Portugal. E hoje ela é mapeada por marcos, toda planilhada, divulgada, dando a sensação de que as cidades que integram esse circuito estão cientes da sua importância nesse contexto, certo?!

Errado!

Como assim?!

Vamos por partes: fizemos o trecho Juiz de Fora - Ewbank da Câmara, que passa pela Vila Militar e pela Represa Dr. João Penido, administrada pela CESAMA. Assim que chegamos na Vila Militar, o soldado se aproximou e perguntou o que queríamos e comentei da Estrada Real, ele respondeu que desconhecia, mas que a gente poderia passar por ali, deixando nome e placa do carro. Ok, o fizemos e imaginei que a gente havia se perdido em algum lugar, mesmo tendo seguido a planilha a risca e estarmos usando o rastro de GPS disponibilizado pelo próprio Instituto Estrada Real. Seguimos. Para a minha surpresa, a menos de 2 km da portaria e em frente à entrada do condomínio de casas dali existem dois, isso mesmo DOIS, marcos da Estrada Real. E logo mais à frente, perto da represa existe uma portaria, com vigia que queria barrar nossa passagem, pois não tínhamos pegado autorização de passagem junto à companhia (CESAMA) e que ele deixaria a gente passar por camaradagem, mas que a Estrada Real não passava por ali e sim por dentro da mata. Entranhei novamente, mas agradecemos... e pimba! A 1,5 km da cabine do cara estava o Marco 1738!! 

Então me digam, como duas pessoas "plantadas" na Estrada Real, com os marcos ali, convivendo com eles e eles não sabem nem da existência do circuito?! Como fizeram os outros turistas que seguiram por ali? Ou não o fizeram e desviaram?! Seria falta de atenção das pessoas, ou falta de treinamento?! A gente estava baseado em planilhas e GPS, e quem não tem este suporte, faz como?!

Um dos marcos da Estrada Real, cobertos com mais de 1m de mato. Março/2016.

Outro cenário, ainda neste feriado, resolvemos visitar a Nascente do Rio Doce, pegando informações com o pessoal que administra o acesso, mas que por ser Páscoa não puderam nos acompanhar. Ele tinha me recomendado ir por Ressaquinha, que é o município que abriga a nascente, mas como estávamos em Barbacena, preferi seguir por Pinheiro Grosso e São José de Pouso Alegre. Assim, na estrada, perguntamos a 3 senhores que caminhavam ali sobre a nascente e um deles fez uma cara de espanto tremenda, mandando a gente retornar e ir para a cidade de Alto do Rio Doce. E se eu não tivesse conversado com o pessoal da nascente, acharia que estava errada e perderia completamente a visita ao local. 

Mais uma vez, as pessoas, moradores locais, não tem ideia dos lugares em que vivem e do potencial turístico que essas coisas tem. Para eles pode ser mais uma nascente, mas para a gente é a Nascente do Rio Doce, um dos principais rios do Brasil, que nasce ali, naquelas montanhas. Assim como a trajetória da Estrada Real, de suma importância e as pessoas desconhecem. Prova disso, aliás, é o acordo que o Instituto tem com as prefeituras das cidades, que elas deveriam manter os marcos e muitos deles estão completamente tombados, sumidos, escondidos na mata que os cobrem, sem as placas informativas...

Ainda, na sexta-feira, em pleno feriado, chegamos ao Museu Sacro Histórico de Tiradentes em Sebollas (Paraíba do Sul) às 11:30h e o museu estava fechado! Na internet você não acha horário de funcionamento... E ao vivo, o papel na porta informava o funcionamento: de quarta a sábado, das 11:00h às 17:00h. Ou seja, era para estar aberto e estava fechado a cadeado sem nenhuma explicação. E se você duvidar, muitos cariocas sequer ouviram falar deste museu... Eu mesma só fui descobrir a sua existência e importância estudando a Estrada Real!!

Museu com a história de Tiradentes (e seus restos mortais!) fechado em pleno feriado... Março/2016.

Tendo tido a impressão que a gente, como brasileiro, pouco se importa com a nossa própria história, não ligando para a importância de museus (bora aproveitar a #MuseumWeek e ir visitar aquele museu que você passa todo dia em frente e nunca entrou?!), de prédios históricos (como deixaram demolir o Palácio Monroe me intriga até hoje!!), até mesmo das ruas, pois muitos são incapazes de segurar o seu lixo quando vai para a praia ou fazer uma trilha e levar para casa para o descarte correto...

Por que a gente não mira nos exemplos que dão certo?! Vejo cidades com tanto potencial turístico sendo neglicenciado por politicagem... Uma pena, pois todos perdemos com isso...

O que você acha disso tudo que escrevi? Concorda, discorda? Tem alguma luz para que possamos alterar esse cenário?!

2 comentários

  1. "Vejo cidades com tanto potencial turístico sendo neglicenciado por politicagem..."
    Concordo com tudo o que vc disse, é muito triste ver isso acontecendo!

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    Respostas
    1. Sim, e parece que isso não vai mudar tão cedo, né? Uma pena. Enquanto o povo não assumir a sua posição, isso não vai mudar!

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